Voltei hoje a encontrá-la, simples, bela, segura como sempre a imaginei, com o mesmo sorriso encantador como na adoslecência,apesar das décadas já passadas.
A nossa separação aos 13 anos, a pouco menos de um ano da morte da minha mãe, acentuou mais a sua falta e dessa data em diante edifiquei-a no meu imaginário como único refúgio, sonhava-a quase a cada dia, como se a tivesse próximo. Ela para mim era a perfeição a alegria e o seu semblante gaiato, bondoso sempre sorridente preenchia todo o vazio de orfandade em que havia caído. Passados alguns anos cheguei a temer encontrá-la, esquecida da nossa relação, porque mantinha-a mais amada que nunca a cada ano que passava e nos momentos de solidão era Ela que me envolvia nos meus sonhos.
Conheci aos 28 anos a minha companheira da vida real, mas sem que me sentisse infiel, nunca a esqueci e nos periodos de ausência em Angola,Moçambique e Guiné,na minha vida de militar, era Ela a minha companhia,que sempre presente, quase como uma imagem de adoração religiosa.
Hoje casualmente cruzamo-nos numa das ruas mais concorridas da cidade, convidei-a para tomar um café, numa esplanada junto ao rio e lá conversámos cerca de hora e meia sobre o decorrer das nossas vidas. Falou-me que esteve emigrada em Marrocos e na Venezuela, falou-me com adoração dos filhos e netos, enfim, parece-me feliz enamorada da vida.
Espero nunca ter a coragem de lhe revelar tudo o que ela constituiu para mim ao longo de tantos anos e mantê-la nos meus sonhos hoje com um sentimento de amizade que a sua presença me proporciona cimentado ao longo da vida, naquele sublime amor de infância.
Os seus cabelos grisalhos, denunciam-lhe o passar dos anos, mas no seu rosto a confiança, a bondade e o sorriso transpiram felicidade.