Hoje numa esplanada à beira mar,ao ler parte de um livro "As Mentiras que os Homens Contam" de Luis Fernando Ver!ssimo, reconheci-me num excerto que rezava assim:
À primeira namorada, mentíamos para preservar o nosso orgulho, certo?
-não, não, eu estava passando por acaso. Você acha que eu fico rondando a sua casa o dia inteiro, é?
Mas o que vocês pensariam se nós dissessemos: « Sim, sim, não posso ficar longe de você o dia inteiro, aqueles telefonemas que você atende e ninguém fala, sou eu! Vamos nos casar ! Eu sei que tenho só 12 anos e você tem 11, mas temos que nos casar, senão eu morro !»? Vocês se assustariam, claro. A Paixão nessa idade pode ser um sumidouro. Mentíamos para nos protegermos do sumidouro.
Outras namoradas outras mentiras.
-Eu só quero ver, juro. Não vou tocar
Vocês não queriam ser tocadas, mas ao mesmo tempo se decepcionavam se a gente nem tentasse. Nem desse a vocês a oportunidade de afastar a nossa mão, indignadas. Ou de descobrir como era tocada.
Namorar - pelo menos no meu tempo, a Renascença - era a uma lenta conquista de territórios hóstis, como a dos desbravadores do Novo Mundo. Avancàvamos no desconhecido, centímetro a centímetro, mentira a mentira.
-Pode mas só até aqui
-Está bem. Não passo daí.
-Jura?
-Juro.
-Você passou! Você mentiu!
-Me distraí !
´Dávamos a vocês todos os álibis, todas as oportunidades para dizer depois que tudo acontecera devido à nossa calhordice e não à vontade como vocês também sentiam. Não mentíamos a vocês, mentìamos por vocês. Os verdadeiros cavalheiros eram os que enganavam as mulheres. Os calhordas diziam, abjetamente, a verdade. Não faziam o que juravam que não iam fazer, transferindo toda a iniciativa a vocês.
É ou não é?
Mas isso tudo mudou, desgraçadamente bem quando eu deixei para trás as tentações do mundo e entrei para uma ordem (a dos monómagos). A revolução sexual, que um dia ainda vai ser comemorada como a Revolução Francesa, com a invenção da pilula anticoncepcional correspondendo à queda da Bastilha e o fim dos sutiãs,ao fim da monarquia - e o termo sans culotte, claro, adquirindo novo significado -, tornou o relacionamento entre homens e mulheres mais franco e desobrigou os homens de mentir para as mulheres para salvar a honra delas. Aliás, dizem que a coisa virou de tal maneira que hoje a mentira mais comum dita pelos homens é « Esta noite não, querida, estou com dôr de cabeça». Não sei. Mas continuamos mentindo a vocês para o bem de vocês.
(Excerto do livro de Luis Fernando Verrissimo, "As Mentiras que os Homens Contam")